Coruja4.gif (7782
    bytes)

  CyberSchool

Construindo
o
Conhecimento



Globedu.gif (8309 bytes)

 

Isnard Martins

 

Capítulo 

4

RETRATO FALADO
UMA ABORDAGEM PRÁTICAISNARD MARTINS

Isnard Martins

Os Fundamentos

Qual seria o melhor Retrato Falado? Obviamente, como resultado, a própria fotografia do sujeito pesquisado. No tocante à qualidade final, considerando uma possível finalização fotográfica do desenho, estaremos, em termos práticos, considerando uma utopia. O desenho tem aparência bidimensional e a aproximação de uma qualidade fotográfica exige um esforço redobrado, com risco possível de afastamento do relato da entrevista com a aparência facial do trabalho final a ser publicado. Por esta razão o retrato falado na maioria das vezes parece mais uma caricatura que propriamente um “retrato”. Estaria mais adequado denominarmos o produto final de “Relato Desenhado”.

Feitoamao.jpg
            (10751 bytes)Figura1
Retrato Falado produzido por processo manual

 

Fonte: Ascon/PCERJ - Divulgação na midia, em 30/07/2003

FeitoaMaquina.jpg (5642 bytes)Figura2
Retrato Falado produzido pelo sistema automatizado do Autor


Modelo hipotético

   A simplicidade de obtenção do modelo manual (figura-1) contrasta com a qualidade do acabamento e realismo do modelo automatizado (figura-2).    
Pretendemos examinar a flexibilidade e a usabilidade do produto final e seu relacionamento com outros sistemas existentes.  Como substituir um método tão simples e flexível como um desenho produzido por um virtuoso desenhista por um sistema que atenda às alternativas antropométricas, biótipos, etnias, particularidades faciais, dinâmica dos modismos sociais e a inflexível rigidez característica dos sistemas não portáteis, residentes em computadores fixados em seus departamentos de origem. A substituição do desenho manual pelo programa em computador deve atender a atributos de usabilidade que satisfaçam a ambos: entrevistado e entrevistador. Dada a subjetividade natural, característica dos atributos fornecidos pelo entrevistado, a tarefa do entrevistador interpretá-los de forma correta e transferi-los para o trabalho a ser desenvolvido produz diversos níveis de dificuldades.

A diferenciação entre os referenciais dos interlocutores pode introduzir na tarefa muitos ciclos de tentativa e erro para aproximação da semelhança desejada.  A percepção do modelo mental a ser reproduzido passa por diversos estágios de equalização até que traduza a melhor identificação da face registrada, ultrapassando as diferenças culturais, bloqueios e outros fatores impeditivos ou de tempo para finalização do trabalho. A precisão do Retrato Falado está intimamente relacionada com fatores não dependentes apenas da boa memória, capacidade de observação ou eventual trauma do entrevistado. 

Van Dijk (2002) considera a diferença existente entre a representação do evento crítico a ser relatado e a história do evento. Na última, teremos uma versão do evento já codificada pelo locutor. Acrescenta ainda que a característica comum a ambos os processos é o fato de tanto quem testemunha como quem escuta a história construírem uma representação na memória com base em informações visuais e lingüísticas, respectivamente. Van Dijk (2002) denominou este processo de Pressuposto Construtivista.
Se no evento relatado são incluídas representações de movimento e som verbalmente caracterizadas, interpretando o evento a registrado, Dijk denominou a isso de Pressuposto Interpretativo. Observa que estamos lidando neste caso com o aspecto semântico do relato. Classificou estes processos de Pressupostos Cognitivos.
O estudo da probabilidade subjetiva, desenvolvido por Cohen (68), oferece considerável interesse teórico de importância prática como ferramenta para minimizar tais efeitos. Proporciona método de investigação, oferecendo uma sistemática conceitual unificada para o estudo de como percebemos, pensamos e aprendemos. Sugere novas possibilidades para pesquisas comparativas sobre o pensamento, traumas e comportamento.

Cohen (68) cita que a incerteza se encontra tão inserida em nossas vidas que domina a linguagem do cotidiano. O nosso falar diário compõe-se, em grande parte, de palavras como “muitos”, “provavelmente”, “grande”, “pequeno”.  Que significam tais palavras? Os instrumentos estudados oferecem limites e facilidades para quantificar a imprecisão verbal da entrevista, e, como tal, deve ser objeto do aprofundamento realizado por estudos ergonômicos.
As combinações possíveis dos atributos faciais (olho, cabeça, boca, nariz, queixo, cabelo, rugas, sobrancelha, pelos faciais, traços e cicatrizes) produzem uma incontável matriz de possibilidades distintas de faces alternativas, segundo tamanho, tipo, altura, largura, cor da pele e presença do atributo na imagem facial desejada.
Por ocasião de uma entrevista, cuja ferramenta para produção do Retrato Falado é o sistema manual, a percepção mental do detalhe facial (molde) relatado pelo entrevistado implica uma série de interações no desenho até o seu ajuste final. Estas interações são executadas com sistema de tentativa e erro, utilizando lápis e borracha sobre o rascunho.

   No sistema automatizado, a interação com detalhes faciais é realizada sobre uma base de moldes pré-armazenados, que, gradualmente, são selecionados de acordo com as memórias do entrevistado.
O sistema de navegação do programa necessita de referenciais antropométricos que relacionem as proporções dos moldes apresentados, oferecendo coerência e distinção entre as relações do grande e o pequeno, o masculino e feminino, o velho e o novo.
Como o Retrato Falado utiliza apenas a visão frontal como base nos relatos, os referenciais aplicados aos moldes automatizados estão restritos aos dados apenas frontais.

   O PhotoComposer utiliza referenciais antropométricos de Bertillon, de 1882, (Galante Filho, 99),  com objetivo de oferecer opções coerentes nas alternativas apresentadas ao entrevistado e boa usabilidade no sistema de navegação do entrevistador.
Utiliza também para o sistema de buscas em arquivos de reconhecimento fotográfico, dados antropométricos apresentados por Moraes(1992) em sua tabela de dados bidimensionais da cabeça, onde são apresentadas informações relacionadas  com características físicas do sujeito pesquisado.  Ainda, segundo Moraes (92), os esquemas antropométricos são de grande valia quando se deseja a construção de componentes, com base em informações. O uso dos esquemas antropométricos com medidas dos usuários extremos possibilita a identificação das variações dimensionais de usuários dotados de perfil atípico. Os moldes são selecionados em páginas seqüenciadas pelo programa, apresentadas em um mosaico de alternativas, organizadas, combinando-se as opções primária e secundária dos moldes, conduzidas pelo diálogo do entrevistador com o sujeito entrevistado. Visando oferecer um recurso que permita ao entrevistado alterar a sua opção em tempo de modelagem, concentrando sua atenção no relato, através de sistema de controles independentes, é possível a “deformação” elástica dos moldes, executada graficamente, após a sua seleção primária. Esta deformação ajusta-se até o limite exigido pela semelhança do relato.
   Uma implementação interessante solicitada por especificadores consiste de recursos para realização de movimento assimétrico do molde em relação ao eixo do rosto. Esta facilidade é particularmente importante quando o suspeito apresenta a boca ou nariz, por exemplo, ligeiramente deslocados em relação à simetria facial. Um painel deslizante pode ser solicitado pelo usuário para realização do deslocamento através dos botões de ajuste. Cada clique no botão representa um pequeno deslocamento do atributo na direção da seta acionada.
Após a fase de preparação do projeto é inevitável que alguns retoques sejam aplicados para que se obtenha máxima fidelidade entre o produto final e o modelo mental descrito pelo entrevistado. Estes retoques são tão particulares que seria impraticável prevê-los em qualquer escala na fase de modelagem.  Visando melhor atender a finalização, o projeto automatizado deverá prover recursos gráficos para desenvolvimento da arte final do modelo obtido.
O professor, perito criminal, Albani Borges dos Reis (99) destaca a importância da entrevista em seu livro Identificação Humana (Capítulo 11 - Bibliografia), geralmente representando um momento de aflição para o entrevistado. Neste momento, a habilidade técnica e capacidade de conduzir a entrevista com competência serão elementos decisivos para obtenção da melhor qualidade do trabalho final. O conhecimento prévio de técnicas de tratamento gráfico, representado pelos recursos suportados pelo aplicativo será fundamental para abreviar a confecção do seu modelo.
Constatação do processo de sintetizar a arte através de recursos automatizados, ou talvez, criar a arte aplicando-se ferramentas distintas da tinta e do pincel. Mas, o computador poderá substituir um virtuoso artista em seu trabalho manual?

Baseado no artigo do mesmo autor, Ergonomia de ferramentas para reprodução gráfica de imagens faciais: produzidas pelo homem ou pelo computador? Publicado nos anais do Congresso Internacional de Design da Informação, setembro 2003, Recife, Pernambuco, Brasil

 

CyberSchool
id28.gif (292
        bytes)